7.11.06

grs/m2

Fica mais um pouco, sussurrou-lhe ela.
Ele ficou.
Pousou os dedos sobre a pele fina, de leve grão.
Aspirou-lhe o perfume, vegetal.
Ela agitou-se, pareceu-lhe.

Ergueu a caneta e desenhou uma palavra:
Era

De repente, a folha encheu-se de mato.
Uma floresta densa, recheada de sons animalescos, pássaros que pareciam suspiros ou suspiros mascarados de pássaros.
Um calor atravessou-lhe as têmporas.

Mergulhou mais fundo, sem largar a caneta, os lábios entreabertos, soletrando:
Uma

A folha tinha-se multiplicado por mil, como os cabelos de uma ninfa nórdica, de um loiro quase branco, libertando um odor húmido que sentia subir-lhe pelos dedos, pelas mãos, pelos braços, enlaçando-lhe o tronco, escorrendo-lhe para o ventre.

Tinha a garganta seca e os olhos doridos. Na mão que segurava ainda a caneta, as veias pareciam explodir, como se fossem as veias da própria caneta:
Vez

Num estalo seco, a folha dobrou-se sobre si própria, como uma praticante de artes marciais, e desferiu-lhe um golpe rápido no pulso, com a margem afiada.

A caneta - em slow motion.

2 comentários:

PB disse...

São IMPLACÁVEIS! ... as folhas ... em branco.

j disse...

Ainda. Mas temos tanta pressa! Demais, estupidamente demais.