Fica mais um pouco, sussurrou-lhe ela.
Ele ficou.
Pousou os dedos sobre a pele fina, de leve grão.
Aspirou-lhe o perfume, vegetal.
Ela agitou-se, pareceu-lhe.
Ergueu a caneta e desenhou uma palavra:
Era
De repente, a folha encheu-se de mato.
Uma floresta densa, recheada de sons animalescos, pássaros que pareciam suspiros ou suspiros mascarados de pássaros.
Um calor atravessou-lhe as têmporas.
Mergulhou mais fundo, sem largar a caneta, os lábios entreabertos, soletrando:
Uma
A folha tinha-se multiplicado por mil, como os cabelos de uma ninfa nórdica, de um loiro quase branco, libertando um odor húmido que sentia subir-lhe pelos dedos, pelas mãos, pelos braços, enlaçando-lhe o tronco, escorrendo-lhe para o ventre.
Tinha a garganta seca e os olhos doridos. Na mão que segurava ainda a caneta, as veias pareciam explodir, como se fossem as veias da própria caneta:
Vez
Num estalo seco, a folha dobrou-se sobre si própria, como uma praticante de artes marciais, e desferiu-lhe um golpe rápido no pulso, com a margem afiada.
A caneta - em slow motion.
2 comentários:
São IMPLACÁVEIS! ... as folhas ... em branco.
Ainda. Mas temos tanta pressa! Demais, estupidamente demais.
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