Abro as portadas da janela da sala para um céu azul, com um novelo branco sobre a direita, e uns fiapos ao longe. No telhado em frente, uma corpulenta gaivota procura equilibrar-se nas anfíbias patas amarelas, escorregando pelas telhas húmidas, esverdeadas pelas águas deste outono. Puxa o pescoço para trás e desfere mais uma bicada no corpo inerte, quase no beiral. Mais acima, sobre as antenas e a chaminé, alguns pombos observam, em silêncio. A gaivota luta contra o plano inclinado, enterrando outra vez o bico no cadáver. Os pombos trocam de posição, entre a chaminé e as antenas. Chega mais uma gaivota, pousando no murete da empena, primeiro balcão sobre a cena. A primeira levanta a cabeça do festim e, batendo as asas, eleva o corpo de forma ameaçadora, afugentando a rival. Os pombos desaparecem. O corpo penado, com um rasgão ensanguentado, escorregou para junto do algeroz e a gaivota consegue arrancar-lhe um pedaço de carne, que debica agora mais ao lado. Uma sombra larga atravessa o céu azul. Dezenas de pombos aterram no topo de outro prédio, dois números de polícia abaixo. Deslizam mais três gaivotas. Observam, com movimentos contidos, e largam numa assuada que enche a rua, em ricochetes pelas paredes.
3 comentários:
estou cada x mais fartinho deste blogger ... ontem à noite fiz n comentários e desapareceram todos ...
Deve ser do Mac ;-) Try a PC!
vê lá se te caiem os dentinhos com a piada ;-)
Enviar um comentário