Não são especulações, mas factos. A série vai já no 17º álbum, embora em Portugal só tenham sido publicados os primeiros nove, pela Meribérica/Liber. Comprei-os todos em duas vezes, no sítio do costume, a preços de saldo, resultado da extinção da editora (desconheço se outra chancela prosseguirá a edição dos restantes volumes; se tal não acontecer, é uma pena). Li, por estes dias, os primeiros cinco: O dia do sol negro; Para onde vai o índio...; Todas as lágrimas do inferno; SPADS; Alerta vermelho. Os autores não me são totalmente desconhecidos: William Vance, por exemplo, desenhou para Jean Giraud algumas histórias do Marshal Blueberry; Jean Van Hamme é, por sua vez, co-autor de Largo Winch e do excelente Western, desenhado por Rosinski. Créditos excelentes, confirmados nestas aventuras de homens e mulheres em fuga, políticos enlouquecidos pelo poder, manipulações, sonhos e armadilhas. Tão reais como a realidade.
Um homem dá à costa com um ferimento grave na cabeça. Recupera do ferimento mas perde por completo a memória de quem é, de onde vem, para onde vai. Descobre que há gente muito poderosa que o quer prender ou matar. Dizem-lhe, mostrando-lhe imagens de um filme como prova, que assassinou o 43º Presidente dos Estados Unidos da América, baleado "em plena rua durante uma visita oficial ao sul do país"... Em Dallas? Como muitas obras de ficção, esta BD parte de alguns factos verídicos para poder desenvolver as linhas mestras da sua enfabulação. Os elementos que os autores utilizam remetem, de imediato, o leitor para o caso Kennedy e as suas proliferantes teses de conspiração: assassínio do presidente; luta eleitoral entre o irmão deste, liberal e defensor de políticas progressistas e sociais, e o seu adversário, o vice-presidente, claramente manipulado por sectores militares e políticos de extrema-direita ("Temos de proteger a nossa economia ameaçada. Temos de reforçar o nosso potencial militar para assegurar a desfesa da nossa supremacia. A hora, meus amigos, não é de escolhas tímidas: sob pena de sermos esmagados, é preciso dominar!": estávamos em... 1987; lembram-se de Reagan?); atentado falhado contra o irmão do presidente assassinado; golpe de estado a partir do interior da Casa Branca para instauração de um regime ditatorial disfarçado de democracia ("O atentado que acaba de ter lugar só pôde realizar-se graças à cumplicidade das mais altas individualidades, General. Na qualidade de Ministro da Defesa e de amigo pessoal do Presidente (...), parece-me indispensável decretar a autoridade das forças armadas em todo o país, até ao total esclarecimento desta terrível conspiração. Alguém tem objecções a apresentar?", pergunta a sinistra personagem de Calvin Wax; Rumsfeld avant la lettre?!). O álbum onde se podem ler estas palavras é o último que li, Alerta vermelho, no fim do qual os conspiradores são desmascarados e vencidos. Pelo menos é o que acontece normalmente na ficção. E na realidade? Bom, isso já é outra história...
1 comentário:
bem te tinha dito q era bom ... bom tb seria de facto publicarem os restantes ...
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