7.10.06

Sónia

O que é o transe? Uma angústia, uma intermitência, uma suspensão, um pesadelo com as pálpebras puxadas para cima por dedos rapaces. O gelo.

O gelo estala. O corpo é atirado para dentro de uma banheira cheia de água. O frio. Umas algemas numa estrada desconhecida. Podes fugir quando sentires que vai ser possível. Talvez um louco te abra a porta. Álcool.

Uma bola de espelhos rodopia reflexos numa parede. Agora tens batom. Agora está esborratado. Esbofeteada. Água. Sede. Os lábios gretados. Suor. Podes fugir mas não agora. Esperma. Como se a bola de espelhos rodopiasse dentro da tua cabeça enquanto os homens procuram arrancar-te as pétalas, com (indiferente) delicadeza.

Que língua é esta? Como te chamas? O Mal não tem tradução? Diz. Água? Dinheiro. Escapa, corre!

Vários homens e um cão a arfar. Um castigo. Para aprenderes a não fugir porque não és dona do teu corpo nem do teu destino. Um contentor. Ainda te lembras do teu nome? Sim. Talvez consigas escapar mas se calhar vais ter, para sempre, uma bola de espelhos a rodopiar dentro da tua cabeça.

“Tanto eu como a Ana Moreira sabiámos que estávamos a falar de uma coisa maior do que nós próprias”

Teresa Villaverde, realizadora de “Transe, Expresso, 30 de Setembro 2006

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